domingo, 29 de maio de 2011

Educação e responsabilidade sociocultural

                 Os alunos da escola Alberto Engelhard, inspiram-se em passagem bíblica e, homenageiam as mães. A encenação ocorre a partir de uma simbólica peça teatral, baseada em um dos episódios que ressaltam a sabedoria do rei Salomão, que inspirado por Deus, tornou-se o grande sábio de seu tempo, refletindo e decidindo justamente em situações contraditórias e sem solução na visão humana...

Sabedoria divina...














             

OS LUSÍADAS:EPISÓDIO DE INÊS DE CASTRO

Episódio de Inês de Castro
(Canto III, estrofes 118 a 135)
         O episódio de Inês de Castro, relata com emoção e eloquência a saga de Inês de Castro, amante de Pedro I, filho de D. Afonso IV. Pedro I aos vinte anos casou-se com Constança, filha do Infante João Manuel, regente de Castela, e apaixonou-se por Inês, dama de companhia de Constança. Após a morte de sua mulher, Pedro e Inês sentiram-se livres para vivenciarem o recíproco amor que  lhes consumia. Porém, o rei convencido por seus conselheiros, pois a relação era inaceitável aos olhos dos súditos, permite o cruel assassinato de Inês na ausência do amado que estava em batalha. Ao retornar, enfurecido de dor e indignação, Pedro jura vingar-se de todos  os conspiradores e assassinos, fato que ocorreu após dez anos quando assume o trono e ordena que sejam mortos todos que lhe causaram tamanha dor, sendo conhecido como "o cruel" e "o justiceiro"
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e digno da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que depois de ser morta foi Rainha.
Tu, só tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxutos,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus formosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.
De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sisudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo c’o sangue só da morte indigna
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra uma fraca dama delicada?
Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,
Para o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E depois, nos meninos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfandade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:
Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como c’o a mãe de Nino já mostraram,
E c’os irmãos que Roma edificaram:
Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar hûa donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.
E se, vencendo a Moura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida, com clemência,
A quem peja perdê-la não fez erro.
Mas, se to assim merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.
Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, c’o amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.)
Queria perdoar-lhe o Rei benigno,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?
Qual contra a linda moça Polycena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
C’o ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha),
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:
Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.
Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia!
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.
Assim como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da menina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, com a doce vida.
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores.

Biografia Luís de Camões

      Poeta português (Lisboa ou Coimbra, c. 1524 – Lisboa, 1580), um dos vultos maiores da literatura da Renascença. Sua obra se coloca entre as mais importantes da literatura ocidental. Luís de Camões é considerado o poeta português mais completo de sua época, ou até mesmo de toda a literatura de língua portuguesa. É assim considerado não somente por ter feito uso de quase todos os gêneros poéticos tradicionais, mas também pela amplitude dos temas de que tratou e pelo excepcional domínio da língua. Camões manipulou todos os recursos da língua portuguesa, ampliando enormemente seu campo de expressão. Na obra de Camões, a língua portuguesa passou a expressar sentimentos, sensações, fatos e ideias de uma forma que até então não fora alcançada por ninguém. Sua posição de destaque entre os poetas portugueses de seu tempo é devida também ao fato de em sua obra estarem presentes tanto o humanismo como a expansão ultramarina, isto é, os dois elementos que caracterizaram o Renascimento português. Tornou-se célebre não somente por ter escrito Os Lusíadas, longo poema épico que reflete toda a história e cultura de Portugal até a data em que o poema foi composto, mas também por sua obra lírica, constituída por vários tipos de poemas, entre os quais os mais famosos são certamente os sonetos.

Paradoxos que o amor descreveu...

Por uns termos em si tão concertados,    
Luís Vaz de Camões (Lisboa[?], c. 1524 — Lisboa, 10 de junho de 1580) foi um célebre poeta de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente.

Paradoxalmente Camões... 
   I
Eu cantarei de amor tão docemente,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que o Amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia, e pena ausente.

Também, senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa,
Aqui falta saber, engenho e arte.

 II
Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa juntamente choro e rio,
O mundo todo abarco, e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconserto:
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio;
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao céu voando;
Num’hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar um’hora.

Se me perguntam alguém por que assim ando
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha senhora.


III
Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar; 
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim com a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.

IV
Busque Amor novas artes, novo engenho 
Para matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Pois mal me tirara o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Pois não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei o porquê.


 V
Alma minha gentil, que te partiste  
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer- te,
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder- te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver- te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


VI
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela; 
Mas não servia ao pai, servia a ela, 
E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias na esperança de um só dia
Passava, contentando- se com vê- La;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu a lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Assim lhe era negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecido,

Começou a servir outros sete anos,
Dizendo: “Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.”


VII
Depois de tantos dias malgastados,
Depois de tantas noites maldormidas,
Depois de tantas lágrimas vertidas,
Tantos suspiros vãos vãmente dados,

Como não sois vós já desenganados,
Desejos, que de cousas esquecidas
Quereis remediar mortais feridas
Que Amor fez sem remédio, o Tempo, os Fados?

Se não tivéreis já longa experiência
Das sem- razões do Amor a quem servistes,
Fraqueza fora em vós a resistência;

Mas pois por vosso mal seus males vistes,
Que o tempo não curou, nem larga ausência,
Qual bem dele esperais, desejos tristes?

   VIII

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar- se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É um estar- se preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É um ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causa pode o seu favor
Nos mortais corações conformidade,
Sendo a si tão contrário o mesmo Amor?

XIX

Vós, que de olhos suaves e serenos,
Com justa causa a vida cativais,  
E que outros cuidados condenai 
Por indevidos, baixos e pequenos;

Se de Amor os domésticos venenos
Nunca provastes, quero que saibais
Que é tanto mais o amor depois que amais,
Quanto são mais as causas de ser menos.

E não cuide ninguém que algum defeito,
Quando na cousa amada se apresenta,
Possa diminuir o amor perfeito:

Antes o dobra mais; e se atormenta,
Pouco a pouco o desculpa o brando peito,
Que amor com seus contrários se acrescenta.

 X

De amor escrevo, de amor trato e vivo;
De amor me nasce amar sem ser amado;
De tudo se descuida o meu cuidado,
Quando não seja ser de amor cativo;

De amor que a lugar alto voe altivo,
E funde a glória sua em ser ousado;
Que se veja melhor purificado
No imenso resplendor de um raio esquivo.

Mas ai que tanto amor só pena alcança!
Mais constante ela, e ele mais constante,
De seu triunfo cada qual só trata.

Nada, enfim, me aproveita; que a esperança,
Se anima alguma vez a um triste amante,
Ao perto vivifica, ao longe mata.


 XI
Um firme coração posto em ventura;
Um desejar honesto, que se enjeite
De vossa condição, sem que respeite
A meu tão puro amor, a fé tão pura;

Um ver-vos de piedade e de brandura
Sempre inimiga, faz-me que suspeite
Se alguma hircana* fera vos deu leite,
Ou se nascestes de uma pedra dura.

Ando buscando causa, que desculpe
Crueza tão estranha; porém quanto
Nisso trabalho mais, mais mal me trata.

De onde vem, que não há quem nos não culpe;
A vós, porque matais quem vos quer tanto,
A mim, por querer tanto a quem me mata.


XII
Quem diz que Amor é falso ou enganoso, 
Ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel, ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piedoso:
Quem o contrário diz não seja crido,
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos deuses, odioso.

Se males faz Amor, em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostra quanto podia.

Mas todas as suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem
Que eu por outro bem não trocaria.

  XIII

Formoso Tejo meu, quão diferente 
 Te vejo e vi, me vês agora e viste,
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,
Claro te vi eu já, tu a mim contente.

A ti foi- te trocando a grossa enchente
A quem teu largo campo não resiste,
A mim trocou- me a vista em que consiste
Meu viver contente ou descontente.

Já que somos no mal participantes
Sejamo- lo no bem, ah, quem me dera
Que fôssemos em tudo semelhantes.

Lá virá então a fresca primavera,
Tu tornarás a ser quem eras d’ antes,
Eu não sei se serei quem d’ antes era.*



Curiosidade:
Um paradoxo é uma declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica, ou a uma situação que contradiz a intuição comum. Em termos simples, um paradoxo é "o oposto do que alguém pensa ser a verdade".